Origem e desenvolvimento
A origem da mitra está em Roma. Entre as vestes não-litúrgicas próprias do papa, encontramos o camelauco. Este se constituía de um pequeno barrete, que passou do uso profano às vestes do papa no início do século VIII, tendo sido citado pela primeira vez durante o Pontificado de Celestino I no "Liber Pontificales".
O formato inicial do camelauco era cônico e era produzido em seda branca. Seu uso se dava principalmente durante as procissões solenes. E foi dessa forma que a mitra teve sua origem. O papa passou a não usar a cobertura para a cabeça não apenas na procissão, mas na celebração que se seguia, geralmente a Santa Missa.
Nesse momento a mitra era um distintivo do papa. Só tempos mais tarde que a mitra passou a ser insígnia episcopal. E, apenas no século XI, que a mitra passou a ser usada também pelos cardeais, ainda que não fossem bispos.
As partes da mitra latina
A mitra latina, usado no Rito Romano e noutros ritos ocidentais, é munida de duas partes em formato aproximado de pentágono, cada um denominado cúspide; assim, dizemos que a mitra latina possui formato bicúspide.As cúspides apontam para cima e simbolizam que é de lá que provém a autoridade e a dignidade do bispo.
As cúspides estão unidas pelas laterais, na parte inferior e por um tecido no interior da mitra, o forro. Embora hajam variações, ste é geralmente da cor vermelha, sibolizando o Espírito Santo que assiste e aconselha o prelado em seu ministério.
Em destaque o forro dourado da mitra do papa Bento XVI
O então cardeal Ratzinger utilizando mitra com forro vermelho
Na parte posterior, ficam suspensas duas pequenas tiras munidas de franjas, ínfulas. Essas, segundo a tradição litúrgica têm o significado atrelado ao da estola. Enquanto a última significa o poder sacerdotal, as primeiras simbolizam a plenitude do sacerdócio. Também as ínfulas são forradas.
Mitra mostrando o formato da cúspide e também as ínfulas pendentes
Mitra simples do Papa
A mitra dita simplex usada pelo Sumo Pontífice é, como todas as demais, eminentemente branca, possui, porém, tanto na parte da frente quanto na de trás um estreito contorno dourado, as ínfulas são brancas e possum também um contorno dourado, além de franjas dessa cor.
Mitra simples pontifícia sendo usada no funeral de um cardeal
Papa usando mitra simples na quarta-feira de cinzas
Bento XVI usando mitra simples de maiores proporções
Uso da mitra nas celebraçõesA mitra é um dos paramentos com mais complexo ritual. Uma regra geral para usar ou tirar a mitra é o costume apostólico que os homens tem o dever de orar descobertos, assim o bispo tira a mitra para as orações.
Uso na forma Ordinária
No novus ordo, a mitra é uma só na mesma ação litúrgica. Como já foi dito, existem apenas dois tipos: simples e ornada. Usa-se a simples na Quarta-feira de cinzas, Sexta-feira santa, nas estações quaresmais, no rito de inscrição do nome, na comemoração de todos os fiéis defuntos, nos ritos exequiais e missas pelos mortos. Em todos os outros dias e celebrações, usa-se mitra ornada.
Dentro das celebrações, o bispo usa mitra quando está sentado, quando faz a homilia, as alocuções e os avisos, quando abençoa solenemente o povo, quando faz gestos sacramentais e quando vai nas procissões; e não usa nas preces introdutórias, nas orações presidenciais, na oração universal, durante a oração eucarística, durante os hinos cantados de pé, nas procissões em que se leva o Santíssimo Sacramento ou Relíquias da Santa Cruz e ainda, diante do Santíssimo Sacramento exposto.
De maneira prática podemos dizer que, na missa:
- O bispo entra com a mitra;
- Retira a mitra antes da reverência ao altar;
- Recebe a mitra imediatamente antes da primeira leitura;
- Retira depois da bênção do diácono;
- Recebe para a homilia;
- Depõe para o credo ou preces, se for o caso;
- Recebe para receber as oferendas;
- Retira ao chegar no altar;
- Recebe depois da oração depois da comunhão;
- Retira-se usando mitra.
- O bispo entra com a mitra;
- Depõe ao subir ao presbitério;
- Coloca no início da salmodia;
- Retira após abençoar o incenso para o Magnificat;
- Recebe após a oração, para a bênção;
- Retira-se usando mitra.
Conclusão
A mitra é, apesar de seus muitos tipos e complexo cerimonial, é uma insígnia de significado muito simples: autoridade. Não poder temporal, mas autoridade pastoral. Se o báculo representa a missão do bispo de pastorear o povo, a mitra representa a autoridade que lhe foi dada para desempenho deste ministério.
Assim, o uso da mitra nas celebrações, não apenas na catedral, mas também ao visitar cada uma das paróquias, é de grande proveito pastoral. Primeiro porque embeleza e enriquece a liturgia, tornando mais próxima dos fiéis a glória celeste; depois por que faz com que o bispo seja visto como Sumo-Sacerdote, uma distinção clara, que até aos menos esclarecidos faz entender o caráter distinto do bispo em relação aos seus presbíteros.
BIBLIOGRAFIA:
- Caeremoniale Episcoporum, edição de 1886, Liber Primus, caput XVII;
- Caeremoniale Episcoporum, edição de 1984, caput IV, n.60;
- The Catholic Encyclopedia, mitre;
- Forun Cattolici Romani, Dizionario Liturgico, mitra;
Fonte: Salvem a Liturgia
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