Mensagem de Dom Dirceu Vegini pelos 100 anos de Foz do Iguaçu / “Deus habita esta cidade” (Sl 47,9)

“Deus habita esta cidade” (Sl 47,9)

Com alegria celebramos o Centenário de Emancipação Político-Administrativa de Foz do Iguaçu. “Deus habita esta cidade” (Sl 47,9), com o salmista elevamos o louvor ao Senhor que estabeleceu morada entre seu povo e o guarda e o protege.
Foz do Iguaçu é a cidade das águas, ela que gera vida e é a grande responsável pelo desenvolvimento do nosso município, seja pelas belezas naturais das Cataratas, verdadeira arquitetura Divina, ou pelas fronteiras ou, ainda, pela Usina Hidrelétrica de Itaipu. A água recorda a purificação, a vida nova que todos são convidados a experimentar em Deus, “que habita esta cidade”.
Nosso padroeiro, São João Batista, aparece na Sagrada Escritura junto ao Rio Jordão, onde batizava com água e dava testemunho de Cristo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus.” (Jo 1,29.34). A “cidade onde Deus habita” também reconhece, como João Batista, as maravilhas operadas pelo seu povo em toda a sua história. E tantas foram as benevolências do Senhor para conosco nestes cem anos, e muitas ainda estão por vir.
“Deus habita esta cidade” por meio de tantos imigrantes e migrantes que para cá vieram e continuam se dirigindo. Nossa terra é marcada pela diversidade étnica, religiosa e cultural e da mesma forma deve ser distinta pelo respeito, diálogo e paz.
“Deus habita esta cidade” na tríplice fronteira, pela promoção da vida, pelo respeito para com as nações paraguaia e argentina, “Nestes rios se confundem nações, num abraço de mútuo fervor; somos porto de mil corações.” (Hino do Município de Foz do Iguaçu)
 “Deus habita esta cidade” em tantos turistas, de todos os lugares do mundo que vem nos visitar e conhecer a Arquitetura Divina, a Maravilha do Mundo Moderno, os Parques, e as duas nações irmãs.
“Deus habita esta cidade” no seu desenvolvimento e progresso, na agricultura, indústria e comércio. Entretanto, “o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo" (Papa Paulo VI, Popolorum Progressium, n.14)
“Deus habita esta cidade” pela sua maior riqueza: o seu povo. Um povo trabalhador, que luta, que sonha e que, apesar de tantas dificuldades, persevera com fé e alegria. Um povo que tem em si mesmo a cultura do encontro e da acolhida, tão necessários nos nossos dias. Deus se revela em nossa cidade pela caridade da sua população, pelas batalhas vencidas, pela esperança de dias melhores, pela busca diária da justiça e da paz.
“Deus habita esta cidade”, pois aqui vive um povo que tem a fé no seu Deus e na sua ação. Não pode haver cidade alheia à presença de Deus. É necessário o diálogo inter-religioso, o respeito às diferenças de crença, mas também urge a transmissão dos valores que advém com fé: a tolerância, o respeito, a defesa da vida da concepção à velhice, o amor, a fraternidade, a caridade, a solidariedade. Este Deus que aqui faz morada, que é Pai, torna-nos irmãos. E irmãos de verdade amam, zelam e preocupam-se um com outro. Sim! Nós somos morada de Deus, somos seu rosto e sua voz.
Contudo, nesta cidade em que Deus habita, nós, os seres humanos, presenciamos e ocasionamos tantas situações que se contrapõe a este Deus bondoso. A violência marcante, que causa insegurança às famílias. A dor que vemos em tantos pais e mães, que choram a morte prematura dos seus filhos jovens, vítimas do trânsito, do tráfico de drogas, de armas e de pessoas. Há ainda tantas situações que exploram e ferem a dignidade humana. A prostituição, a corrupção, a miséria e a indiferença que, pouco a pouco, nos afastam do amor de Deus. É no rosto de tantas pessoas excluídas, maltratadas, violentadas, marginalizadas, que Deus habita, neles encontramos a face de Deus e a eles podemos revelar a face de Deus que é presença em nós.
“Deus habita esta cidade” e sua presença é ação, não nos mantém acomodados e incapazes diante das realidades negativas, mas incita à ação, à missão, a sair ao encontro dos que estão abandonados, perseguidos, famintos, aprisionados. Tanto já foi feito nestes anos, mas muito ainda temos a caminhar e transformar. É necessário o comprometimento e a consciência de cada cidadão. É preciso o coração aberto para acolher e trabalhar, para servir e amar.
Que Nossa Senhora de Guadalupe nos ajude a construir uma cidade em que impera a tão necessária cultura do encontro, do amor, da fraternidade, da justiça, da solidariedade e da paz. Na alegria da comemoração hodierna, em que festejamos este centenário, elevamos os nossos agradecimentos, súplicas e preces ao Senhor, para que nossa Foz do Iguaçu, seja reflexo da Jerusalém Celeste, a Cidade de Deus, este Deus que já habita nossa cidade.

“Sim, mil graças por tanta beleza ó Senhor!
Sempre mais a progredir,
Que em passado de heroica nobreza,
Seja o aval de nosso porvir!”(estrofe do Hino de Foz do Iguaçu).

Parabéns Foz do Iguaçu! Parabéns a todos que construíram e constroem esta história!


Dom Dirceu


A vestição dos paramentos litúrgicos e as respectivas orações

  A vestição dos paramentos litúrgicos e as respectivas orações



1. Breve revisão histórica
As roupas utilizadas pelos ministros sagrados nas celebrações litúrgicas são derivadas das vestimentas gregas e romanas. Nos primeiros séculos, a forma de vestir das pessoas de uma determinada classe social (os honestiores) foi também adotada para o culto cristão, e esta prática foi mantida na Igreja, mesmo após a paz de Constantino. Como contado por alguns escritores eclesiásticos, os ministros sagrados usavam suas melhores roupas, provavelmente reservadas para a ocasião [1].
Enquanto que na antiguidade cristã as vestimentas litúrgicas diferiam das de uso cotidiano não pela forma particular, mas apenas pela qualidade dos tecidos e decoração particular, no curso das invasões bárbaras, os costumes, e com eles também a forma de vestir dos novos povos, foram introduzidos no Ocidente, levando a mudanças na moda profana. A Igreja, ao contrário, manteve essencialmente inalteradas as roupas usadas pelos sacerdotes nos cultos públicos; foi assim que as vestimentas de uso cotidiano acabaram por se diferenciar das de uso litúrgico. Na época carolíngia, finalmente, os paramentos próprios de cada grau do sacramento da ordem foram definitivamente definidos, assumindo a aparência que conhecemos hoje.

2. Função e significado espiritual
Além das circunstâncias históricas, os paramentos sacros têm uma função importante nas celebrações litúrgicas: primeiramente, o fato deles não serem usados no cotidiano, tendo assim um caráter cultual, ajuda-nos a romper com o cotidiano e suas preocupações, no momento da celebração do culto divino. Além disso, as formas largas das vestimentas, como por exemplo da casula, põem em segundo plano a individualidade de quem as veste, enfatizando seu papel litúrgico. Pode-se dizer que a “ocultação” do corpo do ministro sob as vestes, em certo sentido, despersonaliza-o, removendo o ministro celebrante do centro, para revelar o verdadeiro Protagonista da ação litúrgica: Cristo. A forma das vestes, portanto, lembra-nos que a liturgia é celebrada in persona Christi, e não em próprio nome.
Aquele que exerce uma função de culto não atua como indivíduo por si mesmo, mas como ministro da Igreja e como instrumento nas mãos de Jesus Cristo. O caráter sagrado dos paramentos provém também do fato de que são vestidos conforme prescreve o Ritual Romano.
Na forma extraordinária do Rito Romano (de São Pio V), a vestidura dos paramentos litúrgicos é acompanhada por orações relativas a cada veste, orações cujo texto ainda pode ser encontrado em muitas sacristias. Ainda que estas orações não sejam mais prescritas (mas nem tampouco proibidas) da forma ordinária do Missal emitido por Paulo VI, seu uso é aconselhável, uma vez que ajudam nas preparações e no recolhimento do sacerdote antes da celebração do Sacrifício Eucarístico.
Para confirmar a utilidade destas orações, note-se que elas foram incluídas no Compendium Eucharisticum, recentemente publicado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos [2]. Além disso, pode ser útil lembrar que Pio XII, por decreto de 14 de janeiro de 1940, concedeu uma indulgência de cem dias para cada oração.

3. As vestimentas litúrgicas individuais e as orações que acompanham sua vestidura
1) No início da preparação, o sacerdote lava as mãos, recitando uma oração especial; além da questão de higiene, este ato tem também um significado simbólico profundo, representando a passagem do profano ao sagrado, do mundo do pecado para o puro Santuário do Altíssimo. Lavar as mãos equivale, de certa forma, a retirar as sandálias diante da sarça ardente (Êxodo 3:5). A oração se refere a esta dimensão espiritual:
Da, Domine, virtutem manibus meis ad abstergendam omnem maculam; ut sine pollutione mentis et corporis valeam tibi servire.
(Dai às minhas mãos, Senhor, o poder de apagar toda mácula: para que eu vos possa servir sem mácula do corpo e da alma) - (Da’, o Signore, alle mie mani la virtù che ne cancelli ogni macchia: perché io ti possa servire senza macchia dell’anima e del corpo) [3].
À lavagem das mãos se segue a vestidura propriamente dita.
2) Inicia-se com o amito, um pano retangular de linho dotado de duas fitas, que repousa sobre os ombros junto ao pescoço. O amito destina-se a cobrir, ao redor do pescoço, a vestimenta utilizada diariamente, ainda que se trate do hábito do sacerdote. Nesse sentido, é preciso lembrar que o amito também é usado quando se está vestido com roupas de estilo moderno, que muitas vezes não apresentam uma grande abertura em torno do pescoço. De qualquer forma, portanto, as roupas comuns permanecem visíveis e por isso é preciso cobri-las também, nestes casos, com o amito [4].
No Rito Romano, o amito é vestido antes da alva (túnica). Ao vesti-lo, o sacerdote recita a seguinte oração:
Impone, Domine, capiti meo galeam salutis, ad expugnandos diabolicos incursus.
(Colocai, Senhor, na minha cabeça o elmo da salvação para que possa repelir os golpes de Satanás) - (Imponi, Signore, sul mio capo l’elmo della salvezza, per sconfiggere gli assalti diabolici).
Com referência à carta de São Paulo aos Efésios 6.17, o amito é interpretado como "o elmo da salvação”, que deve proteger o portador das tentações do demônio, em especial de pensamentos e desejos malévolos durante a celebração litúrgica. Este simbolismo é ainda mais evidente no costume seguido desde a Idade Média pelos monges beneditinos, franciscanos e dominicanos, entre os quais o amito era posicionado sobre a cabeça e deixado recair sobre a casula ou a dalmática.
3) A alva consiste na veste longa e branca utilizada por todos os ministros sagrados, e que representa a nova veste imaculada que todo cristão recebe mediante o batismo. A alva é portanto um símbolo da graça santificante recebida no primeiro sacramento, e é considerada também um símbolo da pureza de coração necessária para o ingresso na graça eterna da contemplação de Deus no céu (cf. Mateus 5:8). Isso é expresso na oração recitada pelo sacerdote enquanto veste a peça, oração que se refere ao Apocalipse 7,14:
Dealba me, Domine, et munda cor meum; ut, in sanguine Agni dealbatus, gaudiis perfruar sempiternis.
(Revesti-me, Senhor, com a túnica de pureza, e limpai o meu coração, para que, banhado no Sangue do Cordeiro, mereça gozar das alegrias eternas) - (Purificami, Signore, e monda il mio cuore, perché purificato nel Sangue dell’Agnello, io goda degli eterni gaudi).
4) Sobre as vestes, na altura da cintura, é colocado o cíngulo, um cordão de lã ou outro material apropriado, que é usado como cinto.
Todos os oficiantes que portam a alva devem também portar o cíngulo (esta prática tradicional é hoje frequentemente ignorada) [5].
Para diáconos, sacerdotes e bispos, o cíngulo pode ser de cores diferentes, de acordo com o tempo litúrgico ou a memória do dia. No simbolismo das vestes litúrgicas, o cíngulo representa a virtude do auto-controle, que São Paulo enumera entre os frutos do Espírito (cf. Gálatas 5:22). A oração correspondente, como na Primeira Carta de Pedro 1,13, diz:
Praecinge me, Domine, cingulo puritatis, et exstingue in lumbis meis humorem libidinis; ut maneat in me virtus continentiae et castitatis.
(Cingi-me, Senhor, com o cíngulo da pureza, e extingui nos meus rins o fogo da paixão, para que resida em mim a virtude da continência e da castidade) - (Cingimi, Signore, con il cingolo della purezza e prosciuga nel mio corpo la linfa della dissolutezza, affinché rimanga in me la virtù della continenza e della castità).
5) O manípulo é um paramento litúrgico usado nas celebrações da Santa Missa segundo a forma extraordinária do Rito Romano; caiu em desuso nos anos da reforma litúrgica, embora não tenha sido abolido. É semelhante à estola, mas de menor comprimento, inferior a um metro, e é fixado por meio de presilhas ou fitas como as da casula. Durante a Santa Missa em sua forma extraordinária, o celebrante, o diácono e subdiácono o portam sobre o antebraço esquerdo. É possível que este paramento derive de um lenço (mappula) utilizado pelos romanos amarrado ao braço esquerdo. Uma vez que era utilizado para enxugar as lágrimas e o suor da face, escritores eclesiásticos medievais atribuíram ao manípulo um simbolismo associado às fadigas do sacerdócio. Esta leitura também está presente na oração de sua vestidura:
Merear, Domine, portare manipulum fletus et doloris; ut cum exsultatione recipiam mercedem laboris.
(Fazei, Senhor, que mereça trazer o manípulo do pranto e da dor, para que receba com alegria a recompensa do meu trabalho) - (O Signore, che io meriti di portare il manipolo del pianto e del dolore, affinché riceva con gioia il compenso del mio lavoro).
Como se vê, no início da oração mencionam-se as lágrimas e a dor que acompanham o ministério sacerdotal, mas a segunda parte do texto refere-se aos frutos do próprio trabalho. Não será fora de propósito recordar a passagem de um salmo que pode ter inspirado esta segunda simbologia referente ao manípulo, visto que a Vulgata assim apresentava o Salmo 125,5-6: " Qui seminant in lacrimis inexultatione metent; euntes ibant et flebant portantes semina sua, venientes autem venient inexultatione portantes manipulos suos" (grifo nosso).
6) A estola é o elemento distintivo de um ministro ordenado e é sempre usada na celebração dos sacramentos e sacramentais. É uma faixa de tecido, em geral bordado, cuja cor varia de acordo com o tempo litúrgico ou o dia santo. Ao vesti-la, o sacerdote recita a seguinte oração:
Redde mihi, Domine, stolam immortalitatis, quam perdidi in praevaricatione primi parentis; et, quamvis indignus accedo ad tuum sacrum mysterium, merear tamen gaudium sempiternum.
(Restitui-me, Senhor, a estola da imortalidade, que perdi na prevaricação do primeiro pai, e, ainda que não seja digno de me abeirar dos Vossos sagrados mistérios, fazei que mereça alcançar as alegrias eternas) - (Restituiscimi, o Signore, la stola dell’immortalità, che persi a causa del peccato del primo padre; e per quanto accedo indegno al tuo sacro mistero, che io raggiunga ugualmente la gioia senza fine).
Dado que a estola é um paramento de suma importância, indicando mais do que qualquer outro a condição de ministro ordenado, não se pode deixar de lamentar o abuso, já largamente difundido, por parte de alguns sacerdotes, que não a usam em conjunto com a casula [6].
7) Finalmente, veste-se a casula ou planeta, a vestimenta característica daqueles que celebram a Santa Missa. Os livros litúrgicos usavam as duas palavras, em latim casula e planeta, como sinônimos. Enquanto o nome planeta foi usado em particular em Roma e acabou por permanecer na Itália, o nome casula deriva da forma típica da vestimenta, que originalmente circundava todo o corpo do ministro sagrado que a portava. O uso da palavra “casula” também é encontrado em outros idiomas: "Casulla”, em espanhol, “Chasuble” em francês e em Inglês, "Kasel" em alemão. Oração para vestidura da casula remete ao convite de Colossenses 3:14: “Sobretudo, revesti-vos do amor, que une a todos na perfeição”. E, de fato, a oração com a qual se veste a casula cita as palavras do Senhor contidas em Mateus 11,30:
Domine, qui dixisti: Iugum meum suave est, et onus meum leve: fac, ut istud portare sic valeam, quod consequar tuam gratiam. Amen.
(Senhor, que dissestes: O meu jugo é suave e o meu peso é leve, fazei que o suporte de maneira a alcançar a Vossa graça. Amém) - (O Signore, che hai detto: Il mio gioco è soave e il mio carico è leggero: fa’ che io possa portare questo [indumento sacerdotale] in modo da conseguire la tua grazia. Amen).
Em conclusão, espera-se que a redescoberta do simbolismo associado aos paramentos e suas orações incentive os sacerdotes a retomar a prática da oração durante a vestição, de modo a se preparar com o devido recolhimento à celebração litúrgica. Se é verdade que é possível rezar com diferentes orações, ou ainda simplesmente elevando a mente a Deus, por outro lado, os textos da oração de vestição trazem a brevidade, a precisão de linguagem, a inspiração da espiritualidade bíblica e o fato de que são rezados pelos séculos por um número incontável de ministros sagrados. Estas orações são recomendadas ainda hoje, para a preparação da celebração litúrgica, e também realizadas de acordo com a forma ordinária do Rito Romano.

Notas [originais em italiano]
[1] Cf. ad esempio san Girolamo, Adversus Pelagianos, I, 30.
[2] Edito dalla LEV, Città del Vaticano 2009, pp. 385-386.
[3] Riprendiamo il testo delle preghiere dall’edizione del Missale Romanum emanato nel 1962 dal beato Giovanni XXIII, Roman Catholics Books, Harrison (NY) 1996, p. lx. La traduzione in italiano delle preghiere è nostra.
[4] La Institutio Generalis Missalis Romani (2008) al n. 336 permette di non assumere l’amitto quando il camice è confezionato in maniera tale da coprire completamente il collo, nascondendo la vista dell’abito comune. Di fatto, però, avviene di rado che l’abito non sia visibile, anche solo parzialmente; di qui la raccomandazione ad utilizzare comunque l’amitto.
[5] Lo stesso n. 336 della Institutio del 2008 prevede la possibilità di omettere il cingolo, se il camice è confezionato in maniera tale da aderire al corpo senza di esso. Nonostante questa concessione, bisogna riconoscere: a) il valore tradizionale e simbolico dell’uso del cingolo; b) il fatto che difficilmente il camice – sia in foggia più tradizionale, che soprattutto nei tagli più moderni – aderisce da sé al corpo. Se la norma prevede la possibilità, essa dovrebbe però restare piuttosto ipotetica in via di fatto: in concreto, il cingolo risulta sempre necessario. A volte si trovano oggi dei camici che hanno il cingolo incorporato: una fettuccia di stoffa unita al camice per mezzo di una cucitura all’altezza della vita e che si annoda al momento della vestizione: in questi casi la preghiera sul cingolo può essere recitata mentre si annoda. Resta però di gran lunga preferibile la forma tradizionale.
[6] «Il Sacerdote che porta la casula secondo le rubriche non tralasci di indossare la stola. Tutti gli Ordinari provvedano che ogni uso contrario sia eliminato»: Congregazione per il Culto Divino e la Disciplina dei SacramentiRedemptionis Sacramentum, 25 marzo 2004, n. 123.


Fonte: DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SUMO PONTÍFICE.

Mensagem aos Cerimoniários da Diocese de Foz do Iguaçu


Estimado Cerimoniário,

Saudações em Cristo,

É muito bom e importante contar com o seu serviço e comprometimento com a Sagrada Liturgia. O batismo nos impulsiona ao compromisso com o Reino de Deus. Ao retomarmos a filiação Divina, devemos colocar nossos dons à disposição do próximo e servir com amor e fé.
Tivemos a oportunidade de, em 2013, viver momentos únicos e importantes à nossa vida de fé. Primeiramente, o Ano da Fé conclamado pelo, então, Papa Bento XVI, que insistiu em uma maior vivência dos compromissos batismais, a fim de que renovássemos nossa fé, tomássemos a consciência da beleza e grandiosidade de sermos filhos de Deus, que creem com e na Igreja, em uma fé viva, enraizada e edificada em Cristo, uma “fé que atua pelo amor”. Em seguida, Bento XVI deu ao mundo um grande exemplo de humildade, ao reconhecer a falta das forças físicas e espirituais para conduzir a Barca de Pedro, renunciando ao Ministério Petrino.
O Espírito Santo conduziu, conduz e sempre guiará a Igreja de Cristo e, assim, no dia 13 de março de 2013, os cardeais escolheram o Cardeal Bergoglio para ser Bispo de Roma. O Papa Francisco, ao suceder Bento XVI, com um caráter de ação pastoral diferente, mantém-se fiel; conduzindo com amor, fé, humildade e simplicidade o Povo de Deus. Francisco nos mostra de modo prático e direto as práticas da fé, assim como fizeram seus antecessores.
Podemos acompanhar a continuidade renovadora da Igreja, cujo Esposo jamais deixa: Jesus Cristo que, põem a frente de sua Igreja, pastores segundo as necessidades de seu rebanho. Nestes últimos tempos percorremos um itinerário de aprendizado e fortalecimento de fé, pelas belas encíclicas e mensagens, homilias e catequeses de Bento XVI. Hoje, permanecemos neste aprendizado, mas, a partir dele somos incitados continuamente pelo Papa Francisco a nos colocar em missão, como Igreja viva, que ama e que anuncia a “alegria do Evangelho”.
“Ide, sem medo, para servir”, disse o Bispo de Roma na JMJ Rio2013, envio muito semelhante ao que ouvimos no final da Santa Missa: “Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe”. A Santa Missa, vivida com piedade, amor e zelo deve produzir este fruto de missão e ardor evangélico em nós.
Muito vimos e estudamos sobre o rito da Missa, o sentido de cada parte. É preciso estudar, mas, ainda mais do que o conhecer pela razão, a experiência eficaz da Santa Missa deve partir do coração. Quando digo coração, me refiro àquela participação ativa que a Sacrossanctum Concilium nos propõe, na qual nos voltamos ao Senhor com todo nosso coração, alma, espírito e entendimento. É este conhecimento que devemos ter, o conhecimento que se faz vida, que gera fruto, que brota de experimentar e fazer a experiência do Gólgota e do Banquete Eucarístico com o Senhor Jesus e com nossos irmãos na fé. É preciso “orar sem cessar”.
Por isso, antes de nos colocarmos na ação, é preciso a busca do sentir. Antes de nós, como cerimoniários, pensarmos em orientar, conduzir, ensinar ou preparar, é preciso que vivamos, amemos, voltemos nosso olhar para a realidade da nossa comunidade, em obediência à Igreja Universal e Particular, em comunhão com o Bispo e nossos párocos.
Voltar o nosso olhar à realidade não significa fechar nossos olhos ao que talvez não esteja acontecendo segundo o que é orientado pela Igreja. Voltar-nos à realidade implica em sentir a necessidade das pessoas, perceber a fé de cada gesto, ter a caridade de orientar com paciência e paulatinamente, ter a humildade de calar, ouvir e aprender. Não somos legisladores ou detentores das normas; somos servidores, e a primeira grandeza do serviço, como nos ensinou Cristo, consiste em amar e colocar-se no último lugar.
Recordemos alguns aspectos fundamentais práticos da atuação do cerimoniário:
01. Íntima colaboração e comunhão com o bispo diocesano, sacerdotes, equipes de liturgia.
02. Vida pessoal e pública coerentes com o que se espera de todo cristão comprometido, sobretudo os que exercem algum serviço na comunidade, por exemplo, as atitudes diárias na escola, trabalho, com a família devem ser de testemunhos segundo o Evangelho. A interação e publicações em Redes Sociais também devem ser coesas, e, antes de qualquer apontamento de terceiros, devemos nos questionar o bem que nossas atitudes farão, se não serão causa de escândalo ou ofensa, se as fontes são confiáveis, para o caso de publicações referentes à Sagrada Liturgia, se elas estão de acordo com o Magistério Autêntico, em comunhão com a Santa Sé, a CNBB e o Bispo Diocesano. Além disso, cuidemos com as páginas da web que se julgam no direito de formar opiniões e legislar as coisas da Igreja, sem serem legisladoras de direito.
03. O Cerimoniário deve buscar proximidade com os demais ministérios e serviços (pastorais, movimentos e organismos) envolvidos com a Igreja – comunidade de irmãos - e lembrar que cada um deve fazer aquilo que lhe compete, tendo em mente que o Cerimoniário não é legislador e nem compete a ele determinar algo relativo aos Sagrados Mistérios, mas, sim, ter uma postura de acolhimento, sobriedade, amor e obediência.
04. O estudo é importante, mas deve abranger outros aspectos da fé, não podemos nos deter apenas nas rubricas, desta forma, fica como sugestão, desde já, que leiamos a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco.
05. As celebrações devem ser organizadas com antecedência, e segundo as orientações do pároco, o Cerimoniário busque o contato antecipado com as equipes, pois na hora, ou nas horas que antecedem a Santa Missa não é o momento para “cortar” aquilo que foi preparado, além do mais, Cerimoniário algum tem autoridade para isto, pois somos colaboradores e devemos prezar pela unidade, bem pastoral e obediência.
06. O cerimoniário deve se observar para que exerça sua função com sobriedade, piedade, discrição, zelo e amor. Antes de tudo, os cerimoniários devem participar de forma ativa das celebrações, vivendo-a, e apenas a partir desta experiência e testemunho poderão servir como se deve.
07. Novamente ressalto a importância da oração, da caridade e da sobriedade. A oração é o que propulsiona a vida de missão. A caridade, demonstrada na acolhida, silêncio, paciência e obediência são características que devemos cultivar a cada dia. A sobriedade, simplicidade, humildade e leveza em nossos gestos e ao preparar as celebrações tem sido de modo direto, ou indireto, pedidas e indicadas pelo Papa Francisco e pelo nosso Bispo Dom Dirceu, para que jamais percamos o foco da centralidade do Mistério Pascal e a dimensão evangelizadora e pastoral da Santa Missa. Para tanto vale refletir as palavras do Papa na Evangelii Gaudium, ao falar sobre o mundanismo espiritual: Este obscuro mundanismo manifesta-se em muitas atitudes, aparentemente opostas mas com a mesma pretensão de «dominar o espaço da Igreja». Nalguns, há um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história. Assim, a vida da Igreja transforma-se numa peça de museu ou numa possessão de poucos.São palavras, talvez duras a nós, mas que nos devem levar ao questionamento de como está nosso sentir e nosso agir na Sagrada Liturgia, é o nosso pastor que nos fala, e ele quer que também nós, em nosso serviço transmitamos a “Alegria do Evangelho” e a doçura de ser de Cristo.
Que este tempo oportuno de mudança de vida nos ajude a refletir, e pela oração, jejum e caridade, a nos colocarmos no caminho da conversão, seguindo os passos de Jesus a Jerusalém. Voltemos nosso coração a Ele, para que tenhamos mais clareza em nosso serviço: conhecer, amar, compreender. Conhecer para amar. Amar para compreender e sentir com o coração, alma e entendimento, com simplicidade, sobriedade, zelo, paciência e comunhão.
Permaneçamos firmes na fé, juntos de Cristo, que vai conosco no itinerário da Cruz, passando pelas provações e sofrimentos, à alegria da Ressurreição. Que Ele nos abençoe e que o Espírito Santo nos dê a sabedoria necessária para bem servir. Confiemo-nos também a Maria, Auxílio dos Cristãos e ao Bem Aventurado Adílio, para que estejamos, com e pelo amor, mergulhados no Mysterium Fidei.

Unidos pela fé e na oração,

Fraternalmente,

Lucas Marciel da Silva
Seminarista Propedeuta
Coordenador Diocesano dos Servidores do Altar

Ensinamentos sobre a liturgia do Santo Padre Francisco - O que significa adorar a Deus?

Queridos irmãos e irmãs!
Estamos sobre o túmulo de São Paulo, um humilde e grande Apóstolo do Senhor, que o anunciou com a palavra, o testemunhou com o martírio e o adorou com todo o coração. São estes os três verbos sobre os quais eu gostaria de refletir à luz da Palavra de Deus que escutamos: anunciar, testemunhar, adorar.
1. Na Primeira Leitura chama a atenção a força de Pedro e dos outros Apóstolos. Com a ordem de calar, de não ensinar mais no nome de Jesus, de não anunciar mais a sua Mensagem, eles respondem com clareza: “é preciso obedecer a Deus antes que aos homens”. E não os para nem mesmo o serem flagelados, o receberem ultrajes, o serem colocados na prisão. Pedro e os Apóstolos anunciam com coragem, com parresia, aquilo que receberam, o Evangelho de Jesus. E nós? Somos capazes de levar a Palavra de Deus nos nossos ambientes de vida?Sabemos falar de Cristo, do que representa para nós, em família, com as pessoas que fazem parte da nossa vida cotidiana? A fé nasce da escuta, e se reforça no anúncio.

2. Mas façamos um passo adiante: o anúncio de Pedro e dos Apostolos não foi feito somente de palavras, mas a fidelidade a Cristo toca a vida deles, que muda, recebe uma direção nova, e é com a própria vida que eles rendem testemunho à fé e ao anúncio de Cristo. No Evangelho, Jesus pede a Pedro por três vezes de pastorear o seu rebanho e de pastorear com o seu amor, e profetiza: “quando fores velho, estenderás as mãos, e outro vai te amarrar e te levará para onde não queres ir.” (Jo 21,18) É uma palavra direcionada antes de tudo a nós Pastores: não se pode pastorear  o rebanho de Deus se não se aceita ser levado pela vontade de Deus também onde não queremos, se não existe a disponibilidade de testemunhar Cristo com o dom de nós mesmos, sem reservas, sem cálculos, as vezes também  com o preço da nossa vida. Mas isto vale para todos: o Evangelho deve ser anunciado e testemunhado. Cada um deveria se questionar: Como eu testemunho Cristo coma minha fé? Tenho a coragem de Pedro e dos outros Apóstolos de pensar, fazer escolhas e viver como cristão, obedecendo a Deus?
Claro que o testemunho da fé tem tantas formas, como num grande afresco existe uma variedade de cores e de sombras; todas porém são importantes, também aquelas que não se destacam. No grande desígnio de Deus cada detalhe é importante, também o teu, o meu pequeno e humilde testemunho, também no cotidiano dos relacionamentos de família, de trabalho, de amizade. Temos santos para todos os dias, os santos “escondidos”, uma espécie de “classe média da santidade”, como dizia um escritor francês, aquela “classe média da santidade” da qual todos podemos participar. Mas em várias partes do mundo existem aqueles que sofrem, como Pedro e os Apóstolos, por causa do Evangelho; tem quem doa a sua vida para permanecer fiel a Cristo com um testemunho Marcado pelo preço do sangue. Recordemos bem:não se pode anunciar o Evangelho de Jesus sem o testemunho concreto de vida.
Quem nos escuta e nos vê deve poder ler nas nossas ações aquilo que escuta da nossa boca e render glória a Deus! Recordo-me agora o conselho que São Francisco de Assis dava aos seus irmãos: preguem o Evangelho e, se for necessário, também com palavras. Pregar com a vida: o testemunho. A incoerência dos fiéis e dos Pastores entre aqueles que dizem e aqueles que  fazem, entre a palavra e a maneira de viver minha credibilidade da Igreja.
3. Mas tudo isso é possível somente se reconhecemos Jesus Cristo, porque foi Ele quem nos chamou, nos convidou a percorrermos a sua estrada, nos escolheu. Anunciar e testemunhar é possível somente se estamos próximos dele, como Pedro, João e os outros discípulos na passagem do Evangelho de hoje estão em torno de Jesus Ressuscitado; existe uma proximidade cotidiana com Ele, e eles sabem bem quem é, O conhecem.
O evangelista enfatiza que “ninguém ousava perguntar-lhe: “Quem és?” porque sabiam bem que era o Senhor” (Jo 21,12). E este é um ponto importante para nós: viver um relacionamento intenso com Jesus, uma intimidade de diálogo e de vida, a ponto de reconhecê-lo como “o Senhor”. Adorá-lo! A passagem do Apocalipse que nós ouvimos nos fala da adoração: os milhares de anjos, todas as criaturas, os seres vivos, os anciãos, se prostravam em adoração diante do Trono de Deus e do Cordeiro imolado, que é Cristo, a quem pertence o louvor, a honra e a glória (cf Ap 5, 11-14). Gostaria que nos questionássemos: Você, eu, adoramos o Senhor? Nos dirigimos a Deus somente para pedir, para agradecer, ou vamos a Ele para adorá-lo?
O que quer dizer então adorar a Deus? Significa aprender a estar com Ele, a parar para dialogar com Ele, sentindo que a sua presença é a mais verdadeiraa melhor, a mais importante de todas. Cada um de nós, na própria vida, de maneira consciente e talvez às vezes sem perceber, tem bem precisamente uma ordem das coisas consideradas mais ou menos importantes.
Adorar o Senhor quer dizer dar a Ele o lugar que deve ter; adorar o Senhor quer dizer afirmar, crer, não somente em palavras que somente Ele guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o Senhor quer dizer que somos convictos diante d’Ele que somente Ele é Deus, o Deus da nossa vida, o Deus da nossa história.
Isso tem uma consequência na nossa vida: despojar-nos de tantos  pequenos ou grandes ídolos que temos e nos quais nos refugiamos, os quais procuramos e muitas vezes colocamos a nossa segurança. São ídolos que frequentemente  temos bem escondidos, podem ser a ambição, o carreirismo, o sabor sucesso, o colocar ao centro a si mesmo, a tendência a prevalecer sobre os outros, a pretensão de ser os únicos senhores da nossa vida, qualquer pecado no qual estamos ligados, e muitos outros.
Esta tarde gostaria que uma pergunta ressoasse no coração de cada um de nós e que respondêssemos com sinceridade: Qual ídolo escondido tenho em minha vida, que me impede de adorar o Senhor? Adorar é despojar-nos dos nossos ídolos também daqueles mais escondidos, e escolher o Senhor como centro, como estrada mestra da nossa vida.
Caros irmãos e irmãs, o Senhor nos chama cada dia a seguí-lo com coragem e fidelidade;nos deu um grande dom ao nos escolher como seus discípulos; nos convida a anunciá-lo com alegria como o Ressuscitado, mas nos pede para fazer isso com a palavra e com o testemunho da nossa vida, no nosso cotidiano. O Senhor é o Único, o único Deus da nossa vida e nos convida a despojar-nos de tantos ídolos e a adorar somente a Ele. Anunciar, testemunhar, adorar. A Beata Virgem Maria e o Apóstolo São Paulo nos ajudem neste caminho e intercedam por nós. Assim seja.

Homilia - Basílica de São Paulo fora dos muros / Domingo, 14 de abril de 2013

Ensinamentos sobre a liturgia do Santo Padre Francisco - Eucaristia

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, falar-vos-ei da Eucaristia. A Eucaristia insere-se no âmago da «iniciação cristã», juntamente com o Batismo e a Confirmação, constituindo a nascente da própria vida da Igreja. Com efeito, é deste Sacramento do Amor que derivam todos os caminhos autênticos de fé, de comunhão e de testemunho.
O que vemos quando nos congregamos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos prestes a viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se o altar, que é uma mesa coberta com uma toalha, e isto faz-nos pensar num banquete. Sobre a mesa há uma cruz, a qual indica que naquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali recebemos, sob as espécies do pão e do vinho. Ao lado da mesa encontra-se o ambão, ou seja o lugar de onde se proclama a Palavra de Deus: e ele indica que ali nos reunimos para ouvir o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e portanto o alimento que recebemos é também a sua Palavra.
Na Missa, Palavra e Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se condensaram no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: «Tomai e comei, isto é o meu corpo... Tomai e bebei, isto é o meu sangue».
O gesto levado a cabo por Jesus na Última Ceia é a extrema acção de graças ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. Em grego, «acção de graças» diz-se «eucaristia». É por isso que o Sacramento se chama Eucaristia: é a suprema acção de graças ao Pai, o qual nos amou a tal ponto, que nos ofereceu o seu Filho por amor. Eis por que motivo o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é de Deus e ao mesmo tempo do homem, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Por conseguinte, a celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da salvação. «Memorial» não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. É por isso que geralmente, quando nos aproximamos deste Sacramento, dizemos que «recebemos a Comunhão», que «fazemos a Comunhão»: isto significa que no poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística nos conforma com Cristo de modo singular e profundo, levando-nos a prelibar desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete celestial, onde juntamente com todos os Santos teremos a felicidade de contemplar Deus face a face.
Estimados amigos, nunca daremos suficientemente graças ao Senhor pela dádiva que nos concedeu através da Eucaristia! Trata-se de um dom deveras grandioso e por isso é tão importante ir à Missa aos domingos. Ir à Missa não só para rezar, mas para receber a Comunhão, o pão que é o corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa e nos une ao Pai. É bom fazer isto! E todos os domingos vamos à Missa, porque é precisamente o dia da Ressurreição do Senhor. É por isso que o Domingo é tão importante para nós! E com a Eucaristia sentimos esta pertença precisamente à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca compreenderemos todo o seu valor e toda a sua riqueza. Então, peçamos-lhe que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a plasmar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o Coração do Pai. E fazemos isto durante a vida inteira, mas começamos a fazê-lo no dia da nossa primeira Comunhão. É importante que as crianças se preparem bem para a primeira Comunhão e que cada criança a faça, pois trata-se do primeiro passo desta pertença forte a Jesus Cristo, depois do Batismo e da Crisma.


AUDIÊNCIA GERAL - Praça de São Pedro
Quarta-feira, 5 de Fevereiro de 2014

Ensinamentos sobre a liturgia do Santo Padre Francisco - Liturgia e vida

O bom sacerdote reconhece-se pelo modo como é ungido o seu povo; temos aqui uma prova clara. Nota-se quando o nosso povo é ungido com óleo da alegria; por exemplo, quando sai da Missa com o rosto de quem recebeu uma boa notícia. O nosso povo gosta do Evangelho quando é pregado com unção, quando o Evangelho que pregamos chega ao seu dia a dia, quando escorre como o óleo de Aarão até às bordas da realidade, quando ilumina as situações extremas, «as periferias» onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem saquear a sua fé. As pessoas agradecem-nos porque sentem que rezámos a partir das realidades da sua vida de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angústias e esperanças. E, quando sentem que, através de nós, lhes chega o perfume do Ungido, de Cristo, animam-se a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue ao Senhor: «Reze por mim, padre, porque tenho este problema», «abençoe-me, padre», «reze para mim»… Estas confidências são o sinal de que a unção chegou à orla do manto, porque é transformada em súplica – súplica do Povo de Deus. Quando estamos nesta relação com Deus e com o seu Povo e a graça passa através de nós, então somos sacerdotes, mediadores entre Deus e os homens. O que pretendo sublinhar é que devemos reavivar sempre a graça, para intuirmos, em cada pedido – por vezes inoportuno, puramente material ou mesmo banal (mas só aparentemente!) –, o desejo que tem o nosso povo de ser ungido com o óleo perfumado, porque sabe que nós o possuímos. Intuir e sentir, como o Senhor sentiu a angústia permeada de esperança da hemorroíssa quando ela Lhe tocou a fímbria do manto. Este instante de Jesus, no meio das pessoas que O rodeavam por todos os lados, encarna toda a beleza de Aarão revestido sacerdotalmente e com o óleo que escorre pelas suas vestes. É uma beleza escondida, que brilha apenas para aqueles olhos cheios de fé da mulher atormentada com as perdas de sangue. Os próprios discípulos – futuros sacerdotes – não conseguem ver, não compreendem: na «periferia existencial», vêem apenas a superficialidade duma multidão que aperta Jesus de todos os lados quase O sufocando (cf. Lc 8, 42). Ao contrário, o Senhor sente a força da unção divina que chega às bordas do seu manto.
É preciso chegar a experimentar assim a nossa unção, com o seu poder e a sua eficácia redentora: nas «periferias» onde não falta sofrimento, há sangue derramado, há cegueira que quer ver, há prisioneiros de tantos patrões maus. Não é, concretamente, nas auto-experiências ou nas reiteradas introspecções que encontramos o Senhor: os cursos de auto-ajuda na vida podem ser úteis, mas viver a nossa vida sacerdotal passando de um curso ao outro, de método em método leva a tornar-se pelagianos, faz-nos minimizar o poder da graça, que se activa e cresce na medida em que, com fé, saímos para nos dar a nós mesmos oferecendo o Evangelho aos outros, para dar a pouca unção que temos àqueles que não têm nada de nada.
Insegnamenti sulla liturgia del Santo Padre Francesco
O sacerdote, que sai pouco de si mesmo, que unge pouco – não digo «nada», porque, graças a Deus, o povo nos rouba a unção –, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de activar a parte mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. A diferença é bem conhecida de todos: o intermediário e o gestor «já receberam a sua recompensa». É que, não colocando em jogo a pele e o próprio coração, não recebem aquele agradecimento carinhoso que nasce do coração; e daqui deriva precisamente a insatisfação de alguns, que acabam por viver tristes, padres tristes, e transformados numa espécie de coleccionadores de antiguidades ou então de novidades, em vez de serem pastores com o «cheiro das ovelhas» – isto vo-lo peço: sede pastores com o «cheiro das ovelhas», que se sinta este –, serem pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens. É verdade que a chamada crise de identidade sacerdotal nos ameaça a todos e vem juntar-se a uma crise de civilização; mas, se soubermos quebrar a sua onda, poderemos fazer-nos ao largo no nome do Senhor e lançar as redes. É um bem que a própria realidade nos faça ir para onde, aquilo que somos por graça, apareça claramente como pura graça, ou seja, para este mar que é o mundo actual onde vale só a unção – não a função – e se revelam fecundas unicamente as redes lançadas no nome d’Aquele em quem pusemos a nossa confiança: Jesus.
Amados fiéis, permanecei unidos aos vossos sacerdotes com o afecto e a oração, para que sejam sempre Pastores segundo o coração de Deus.
Amados sacerdotes, Deus Pai renove em nós o Espírito de Santidade com que fomos ungidos, o renove no nosso coração de tal modo que a unção chegue a todos, mesmo nas «periferias» onde o nosso povo fiel mais a aguarda e aprecia. Que o nosso povo sinta que somos discípulos do Senhor, sinta que estamos revestidos com os seus nomes e não procuramos outra identidade; e que ele possa receber, através das nossas palavras e obras, este óleo da alegria que nos veio trazer Jesus, o Ungido. Amen.

Ensinamentos sobre a liturgia do Santo Padre Francisco - Liturgia e beleza

Amados irmãos e irmãs,
Com alegria, celebro pela primeira vez a Missa Crismal como Bispo de Roma. Saúdo com afecto a todos vós, especialmente aos amados sacerdotes que hoje recordam, como eu, o dia da Ordenação
As Leituras e o Salmo falam-nos dos «Ungidos»: o Servo de Javé referido por Isaías, o rei David e Jesus nosso Senhor. Nos três, aparece um dado comum: a unção recebida destina-se ao povo fiel de Deus, de quem são servidores; a sua unção «é para» os pobres, os presos, os oprimidos… Encontramos uma imagem muito bela de que o santo crisma «é para» no Salmo 133: «É como óleo perfumado derramado sobre a cabeça, a escorrer pela barba, a barba de Aarão, a escorrer até à orla das suas vestes» (v. 2). Este óleo derramado, que escorre pela barba de Aarão até à orla das suas vestes, é imagem da unção sacerdotal, que, por intermédio do Ungido, chega até aos confins do universo representado nas vestes.
Insegnamenti sulla liturgia del Santo Padre Francesco
As vestes sagradas do Sumo Sacerdote são ricas de simbolismos; um deles é o dos nomes dos filhos de Israel gravados nas pedras de ónix que adornavam as ombreiras do efod, do qual provém a nossa casula actual: seis sobre a pedra do ombro direito e seis na do ombro esquerdo (cf. Ex 28, 6-14). Também no peitoral estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel (cf. Ex 28, 21). Isto significa que o sacerdote celebra levando sobre os ombros o povo que lhe está confiado e tendo os seus nomes gravados no coração. Quando envergamos a nossa casula humilde pode fazer-nos bem sentir sobre os ombros e no coração o peso e o rosto do nosso povo fiel, dos nossos santos e dos nossos mártires, que são tantos neste tempo.
Depois da beleza de tudo o que é litúrgico – que não se reduz ao adorno e bom gosto dos paramentos, mas é presença da glória do nosso Deus que resplandece no seu povo vivo e consolado –, fixemos agora o olhar na acção. O óleo precioso, que unge a cabeça de Aarão, não se limita a perfumá-lo a ele, mas espalha-se e atinge «as periferias». O Senhor dirá claramente que a sua unção é para os pobres, os presos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados. A unção, amados irmãos, não é para nos perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso... e o coração amargo.