“Deus habita esta cidade” (Sl 47,9)
Com
alegria celebramos o Centenário de Emancipação Político-Administrativa de Foz
do Iguaçu. “Deus habita esta cidade”
(Sl 47,9), com o salmista elevamos o louvor ao Senhor que estabeleceu morada
entre seu povo e o guarda e o protege.
Foz
do Iguaçu é a cidade das águas, ela
que gera vida e é a grande responsável pelo desenvolvimento do nosso município,
seja pelas belezas naturais das Cataratas, verdadeira arquitetura Divina, ou pelas fronteiras ou, ainda, pela Usina Hidrelétrica
de Itaipu. A água recorda a purificação, a vida nova que todos são convidados a
experimentar em Deus, “que habita esta cidade”.
Nosso
padroeiro, São João Batista, aparece na Sagrada Escritura junto ao Rio Jordão,
onde batizava com água e dava testemunho de Cristo: “Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo. Eu
o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus.” (Jo 1,29.34). A “cidade
onde Deus habita” também reconhece,
como João Batista, as maravilhas operadas pelo seu povo em toda a sua história.
E tantas foram as benevolências do Senhor para conosco nestes cem anos, e muitas
ainda estão por vir.
“Deus habita esta cidade”
por meio de tantos imigrantes e migrantes que para cá vieram e continuam se
dirigindo. Nossa terra é marcada pela diversidade étnica, religiosa e cultural
e da mesma forma deve ser distinta pelo respeito, diálogo e paz.
“Deus habita esta cidade” na
tríplice fronteira, pela promoção da vida, pelo respeito para com as nações
paraguaia e argentina, “Nestes rios se confundem nações, num abraço de mútuo
fervor; somos porto de mil corações.” (Hino do Município de Foz do Iguaçu)
“Deus habita esta cidade”
em tantos turistas, de todos os lugares do mundo que vem nos visitar e conhecer
a Arquitetura Divina, a Maravilha do Mundo Moderno, os Parques, e as duas
nações irmãs.
“Deus habita esta cidade”
no seu desenvolvimento e progresso, na agricultura, indústria e comércio.
Entretanto, “o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico.
Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o
homem todo" (Papa Paulo VI, Popolorum
Progressium, n.14)
“Deus habita esta cidade”
pela sua maior riqueza: o seu povo. Um povo trabalhador, que luta, que sonha e
que, apesar de tantas dificuldades, persevera com fé e alegria. Um povo que tem
em si mesmo a cultura do encontro e da acolhida, tão necessários nos nossos
dias. Deus se revela em nossa cidade pela caridade da sua população, pelas
batalhas vencidas, pela esperança de dias melhores, pela busca diária da
justiça e da paz.
“Deus habita esta cidade”,
pois aqui vive um povo que tem a fé no seu Deus e na sua ação. Não pode haver
cidade alheia à presença de Deus. É necessário o diálogo inter-religioso, o
respeito às diferenças de crença, mas também urge a transmissão dos valores que
advém com fé: a tolerância, o respeito, a defesa da vida da concepção à
velhice, o amor, a fraternidade, a caridade, a solidariedade. Este Deus que
aqui faz morada, que é Pai, torna-nos irmãos. E irmãos de verdade amam, zelam e
preocupam-se um com outro. Sim! Nós somos morada de Deus, somos seu rosto e sua
voz.
Contudo,
nesta cidade em que Deus habita, nós, os seres humanos, presenciamos e ocasionamos
tantas situações que se contrapõe a este Deus bondoso. A violência marcante, que
causa insegurança às famílias. A dor que vemos em tantos pais e mães, que
choram a morte prematura dos seus filhos jovens, vítimas do trânsito, do
tráfico de drogas, de armas e de pessoas. Há ainda tantas situações que exploram
e ferem a dignidade humana. A prostituição, a corrupção, a miséria e a
indiferença que, pouco a pouco, nos afastam do amor de Deus. É no rosto de
tantas pessoas excluídas, maltratadas, violentadas, marginalizadas, que Deus habita, neles encontramos a face
de Deus e a eles podemos revelar a face de Deus que é presença em nós.
“Deus habita esta cidade”
e sua presença é ação, não nos mantém acomodados e incapazes diante das
realidades negativas, mas incita à ação, à missão, a sair ao encontro dos que
estão abandonados, perseguidos, famintos, aprisionados. Tanto já foi feito
nestes anos, mas muito ainda temos a caminhar e transformar. É necessário o
comprometimento e a consciência de cada cidadão. É preciso o coração aberto
para acolher e trabalhar, para servir e amar.
Que
Nossa Senhora de Guadalupe nos ajude a construir uma cidade em que impera a tão
necessária cultura do encontro, do amor, da fraternidade, da justiça, da
solidariedade e da paz. Na alegria da comemoração hodierna, em que
festejamos este centenário, elevamos os nossos agradecimentos, súplicas e
preces ao Senhor, para que nossa Foz do Iguaçu, seja reflexo da Jerusalém
Celeste, a Cidade de Deus, este Deus que já habita nossa cidade.
“Sim, mil graças por
tanta beleza ó Senhor!
Sempre mais a
progredir,
Que em passado de
heroica nobreza,
Seja o aval de nosso
porvir!”(estrofe do Hino de Foz do Iguaçu).
Dom Dirceu
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