CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA E ABERTURA DO
1º ENCONTRO MUNDIAL DE JOVENS DA RCC
XXX CONGRESSO NACIONAL DA RCC
Foz do Iguaçu
Terça-feira 10 de junho de 2012
Como Pastor desta Diocese,
digo-vos de coração aberto e com muita alegria, entrem, sentem, a casa é de
todos vocês, vamos partilhar como irmãos e amigos tantas graças e bênçãos que
Deus, com certeza, tem reservadas para nós.
A luz de um momento pode iluminar toda uma vida.
Com este pensamento, amados
jovens, amados irmãos e irmãs, que a partir de hoje se unem e se reúnem para
celebrar este importante Congresso da Renovação Carismática Católica, assim
como o Encontro Mundial de Jovens, aqui, nesta Igreja Particular, cujos temas
vão de encontro com a Liturgia da Palavra à nós, hoje, dirigida. O tema, “Apascenta as minhas ovelhas”(Jo
21,17), pedido de Jesus ao apóstolo Pedro após perguntar à ele três vezes se O
amava e que inspira o Congresso Nacional da RCC nos coloca no espírito do
Evangelho que acabamos de ouvir, Ele que ama as multidões e dela se compadece
pede para que rezemos ao Senhor da messe, ela precisa de muitos servidores que
aspiram a santidade. E o outro tema “Em
Jesus, as nações porão sua esperança”(Mt 12,21) palavra do Profeta Isaias
aqui lembradas pelo evangelista Mateus e que inspira o Encontro Mundial de
Jovens, nos coloca no espírito da primeira leitura, afinal só em Jesus Cristo
encontramos o verdadeiro sentido da vida e para a vida, os ídolos são castelos
de areia que quase nada precisam para jogá-los por terra. Caros jovens a pureza
de vida só se alcança no desejo profundo da santidade.
Nós todos nos unimos e reunimos
aqui porque acreditamos firmemente em nossa vocação universal à santidade. E o
que é a Santidade? Garanto à todos que não é algo extraordinário, mas a
consequência ordinária do amadurecimento da alma. Nosso Beato, João Paulo II,
na carta apostólica Novo Millenio
Ineunte, diz-nos que esta é uma verdade
que diz respeito a todos os cristãos: Perguntar a um batizando: Queres
receber o batismo?, significa ao mesmo tempo interrogá-lo: Queres fazer-te
santo?. Este ideal não é um caminho extraordinário, que possa ser percorrido
apenas por algum “gênio” da santidade, mas o caminho ordinário que deve ser
palmilhado por qualquer cristão.
Chegar à santidade, repetimos, é
tão normal para um cristão como chegar à plena maturidade. A santidade é o
fruto maduro da vida espiritual. A árvore dá naturalmente o seu fruto: os
frutos constituem o último esforço da
árvore, a sua natural consequência e, ao mesmo tempo, o mais nobre resultado
que ela é capaz de produzir; o que assegura a conservação da espécie e, na
linguagem mais comum, o mais gostoso que ela pode oferecer: “Chama-se fruto –
escreve São Tomás de Aquino – ao produto da planta que chega à perfeição e tem
certa doçura”. E a santidade é – insisto, muito amados irmãos e irmãs – o fruto
natural, perfeito, sazonado, da vida que nos foi comunicada pelo Batismo.
Antes da constituição do mundo,
Deus nos elegeu para sermos santos(Ef 1,4). Fomos eleitos para a santidade
antes de sermos criados. Ou melhor, fomos criados porque tínhamos sido eleitos
para sermos santos. Na palavra santidade
devem estar compreendidos todos os nossos projetos. Isto é o que integra o
sentido da nossa vida. Se não somos santos estamos frustrando os desígnios de
Deus e também a nossa própria realização pessoal.
Meus irmãos e irmãs, prestaram
bem atenção no que nos fala o Profeta Oséias na 1ª leitura? O que dizer de
nosso tempo? Não é exatamente isso o que está acontecendo? A pós-modernidade,
como se sabe, acentua a fragmentação do indivíduo, privatiza-o, especifica. Newton
Duarte em Crítica ao fetichismo da
individualidade chama a pós modernidade de “expressão teórica da barbárie
produzida em escala crescente pelo capitalismo”. E, nenhum outro grupo social
vive o ethos modernizante de forma mais acentuada do que a juventude. Numa ode
ao progresso , os jovens vivem o carpe
diem e o self made man como
máximas a serem seguidas. Tudo é em si e para si. Para a sobrevivência do
espólio da modernidade é necessário inculcar
nas novas gerações, em especial nos adolescentes e jovens, os valores
modernizantes em que o imperativo é consumir. A força ideológica da modernidade
torna-se um “imaginário social” aceito e participado por todos os jovens. É
esse imaginário social que define o que e como consumir. Sim, não basta
consumir, é necessário consumir produtos específicos. Produtos que são motivos de culto e celebração e,
portanto, fetichizados, tornando-se razão do próprio ser: eu sou aquilo que consumo.
Nesse processo o jovem é
coisificado, mas também nós adultos. Somos tomados como objetos que estão para
serem consumidos. A questão está em que, ao ser consumido, o objeto perde o
encanto; desfetichizado ele não encontra “sentido” de existir. Precisa ser
descartado. Assim fazemos com celulares, com computadores, roupas.... e assim
fazemos com as relações pessoais.
Queridos jovens, assim nos falou
nosso Papa Bento XVI: “a felicidade que buscais, a felicidade que tendes o
direito de saborear, tem um nome, um rosto: o de Jesus de Nazaré, oculto na
Eucaristia. Só ele dá plenitude de vida à humanidade. Dizei com Maria, o vosso
“sim” ao Deus que quer entregar-se a vós. Quem
deixa entrar Cristo na sua vida não
perde nada, nada, absolutamente nada do que faz a vida livre, bela e grande.
Não! Só com esta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só com esta
amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só
com esta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta. Estai
plenamente convencidos: Cristo não tira nada do que há de formoso e grande em
vós, mas leva tudo à perfeição para a glória de Deus, a felicidade dos homens e
mulheres e a salvação do mundo. A Igreja
precisa de Santos. Todos estamos chamados à santidade, e só os santos podem
renovar a humanidade.” Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o
conceito da realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas
destrutivas. A messe é grande, nos disse Jesus no Evangelho de hoje, todos,
portanto, são convocados pelo Mestre para a missão.
Amados irmãos e irmãs, trata-se
de reconstruir a totalidade. A totalidade da sociedade e, por conseguinte, do
próprio sujeito. Fazê-lo no movimento constante de ruptura e superação da ode
pós moderna e de suas estruturas alienantes que atravessam a pessoa. Fazê-lo
oportunizando para que a sexualidade humana seja uma das expressões da plenitude
do indivíduo totalizado. Fazê-lo numa atitude de acolhida para que o humano
seja valor e não mercadoria.
Fazê-lo porque a nossa
perspectiva é a do amor, e como nos lembra o evangelista João, o verbo precisa
fazer-se carne para que habite entre nós. Vamos cristianizar o mundo moderno;
chegar com nossa ação a tão diversos areópagos
culturais; atrair essas multidões que se encaminham para tantas e tão diversas
“seitas”; devolver à família sua genuína essência; enfim, instaurar todas as
coisas em Cristo (Ef 1,10); inserir o Senhor no cerne de todos os valores
humanos nos parecerá, talvez, algo quimérico ou inatingível. No entanto, essa
meta tão alta foi alcançada por aqueles apóstolos que, depois da morte de
Cristo, pela força transformadora de Pentecostes, ao converterem-se em outros Cristos, chegaram a transfigurar
todo o fabuloso Império Romano.
Gostaria de afirmar também que
somos tesouro, porém em vaso de argila, daí não podermos dar chance a
distrações, a concessões, mesmo se pequenas. Ouçam esta história, não se trata
de uma parábola, mas de um fato. Quando Leonardo da Vinci sentiu a inspiração
de pintar a sua famosa “última ceia”, procurou um modelo vivo que deveria
representar a figura de Jesus. Percorreu ambientes diversos, ruas e praças, até
que encontrou um jovem que mostrava no seu rosto a limpidez, a transparência, a
sensibilidade afetiva e, ao mesmo tempo, a firmeza e a virilidade: era a imagem
ideal. O jovem ficou entusiasmado ao ver o seu rosto estampado no rosto de
Cristo. Passaram-se quatro anos. Leonardo tinha pintado já quase todos os
apóstolos, faltava Judas. Não encontrava o modelo. Procurou-o também longamente
sem encontrar aquele que viria a representar a imagem da traição, da
degeneração. Era difícil. Até que, por fim, encontrou um mendigo bêbado,
atirado na sarjeta. O seu olhar tinha algo de duro, de falso, de ambíguo...
Pareceu-lhe ter encontrado o que procurava. Ofereceu-lhe uma boa importância
para posar. Ao terminar o quadro, o mendigo disse para Leonardo: “O senhor não
me reconhece?”. E, diante da negativa do pintor, acrescentou, para assombro de
Leonardo: “Pois eu servi de modelo para a figura de Jesus”. Em quatro anos
aquele jovem sofreu um terrível processo degenerativo. Poderíamos perguntar:
como pode isso acontecer? Não é de repente... Pequenas concessões, diminutas
rebeldias.
Há em todos nós, caríssimos
irmãos e irmãs, um Jesus e um Judas escondidos no mais íntimo de nossa alma.
Estamos destinados a sermos outros Cristos, mas levamos também em nós os germes
do velho Adão, do pobre Judas: tesouro
preciosíssimo em vaso de argila.
Por isso devemos questionar o
mundo através do testemunho da própria vida, unindo falar e o fazer, a fim de
que aqueles que nos veem possam dizer: Mas quem são estes? Quem é Jesus Cristo.
Aquele que é, pergunta a nós
hoje: Quem ele é. Aqui está em jo1go a nossa identidade. Ele quer ser
reconhecido: esse é o desejo fundamental do amor que se revela. O cristianismo
é, na verdade a minha relação com Jesus, o meu amor ao meu Senhor em resposta
ao seu amor por mim (cf GL 2,20).
Caríssimos, nossa missão é evangelizar
a partir de Jesus Cristo, na força do Espírito Santo. Celebramos hoje a Páscoa
de Cristo na vida e na ação evangelizadora de cada um de nós. Agradecemos sua
fé e empenho missionário. E celebramos o Senhor que nos escolheu e nos enviou
para sermos seus principais parceiros no ministério em favor da vida, assumido
na Páscoa e dinamizado pelo dom do Espírito Santo, Dom de Deus para todos nós.
A Renovação Carismática Católica
tem grande amor a Maria Santíssima, aquela que viveu a plena obediência da fé e
escutou com o ouvido e o coração. Ela teve a vida totalmente modelada pela
Palavra. Que ela faça de todos nós discípulos servidores da Palavra de Deus na
missão da Igreja. Que ela continue sendo para todos nós Mulher Eucarística,
servidora da Palavra, modelo para todos nós, chamados a gerar Cristo pela
escuta da Palavra e participação na celebração dos sacramentos.
Pela intercessão de Nossa Senhora
de Guadalupe, assim invocada em nossa Catedral, na Tríplice Fronteira, a escuta
da Palavra faça crescer nossa fé; pela fé, esperemos e esperando amemos (Santo
Agostinho).
Dom Dirceu Vegini
Bispo Diocesano de Foz do Iguaçu
0 comentários:
Postar um comentário