I. Estrutura geral da Missa
27. Na Missa ou Ceia do Senhor, o povo de Deus é convocado e reunido, sob a
presidência do sacerdote que faz as vezes de Cristo, para celebrar o memorial
do Senhor ou sacrifício eucarístico. A esta
assembleia local da santa Igreja se aplica eminentemente a promessa de Cristo:
“Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles”
(Mt 18, 20). Com efeito, na celebração da Missa, em que se perpetua o
sacrifício da cruz, Cristo está realmente presente: na própria assembleia congregada em
seu nome, na pessoa do ministro, na sua palavra e, ainda, de uma forma
substancial e permanente, sob as espécies eucarísticas.
28. A Missa consta, por assim dizer, de duas partes: a liturgia da palavra e
a liturgia eucarística. Estas duas partes, porém, estão entre si tão
estreitamente ligadas que constituem um único acto de culto. De facto, na
Missa é posta a mesa, tanto da palavra de Deus como do Corpo de Cristo, mesa em
que os fiéis recebem instrução e alimento. Há ainda
determinados ritos, a abrir e a concluir a celebração.
II. Os diversos elementos da Missa
Leitura da palavra de Deus e sua explanação
29. Quando na Igreja
se lê a Sagrada Escritura, é o próprio Deus quem fala ao seu povo, é Cristo,
presente na sua palavra, quem anuncia o Evangelho.
Por isso as leituras da palavra de Deus, que oferecem
à Liturgia um elemento da maior importância, devem ser escutadas por todos com
veneração. E embora a palavra divina, contida nas leituras da Sagrada
Escritura, seja dirigida a todos os homens de todos os tempos e seja para eles
inteligível, no entanto a sua mais plena compreensão e a sua eficácia são
favorecidas por um comentário vivo, isto é, a homilia, que faz parte da ação
litúrgica.
Orações e outros elementos que pertencem à função do sacerdote
30. Entre as partes da Missa que pertencem ao sacerdote, está em primeiro
lugar a Oração eucarística, ponto culminante de toda a celebração. Vêm a seguir
as orações: a oração coleta, a oração sobre as oferendas e a oração depois da
comunhão. O sacerdote, que preside à assembléia fazendo as vezes de Cristo,
dirige estas orações a Deus em nome de todo o povo santo e de todos os
presentes. Por isso se
chamam “orações presidenciais”.
31. Compete igualmente ao sacerdote, enquanto presidente da assembléia
reunida, fazer certas admoestações previstas no próprio rito. Onde as rubricas
o prevejam, o celebrante pode adaptá-las de modo a corresponderem melhor à
capacidade dos participantes; no entanto, o sacerdote deve procurar que o
sentido da admoestação proposta no livro litúrgico seja sempre mantido e
expresso em poucas palavras. Pertence ainda ao sacerdote presidente anunciar a
palavra de Deus e dar a bênção final. Pode ainda introduzir os fiéis, com
brevíssimas palavras: na Missa do dia, após a saudação inicial e antes do rito
penitencial; na liturgia da palavra, antes das leituras; na Oração eucarística,
antes do Prefácio, mas nunca dentro da própria Oração; finalmente, antes da
despedida, ao terminar toda a ação sagrada.
32. O carácter «presidencial» destas intervenções exige que elas sejam
proferidas em voz alta e clara e escutadas por todos com atenção. Por isso,
enquanto o sacerdote as profere, não se hão-de ouvir nenhumas outras orações ou
cânticos, nem o toque do órgão ou de outros instrumentos musicais.
33.
Como presidente, o sacerdote pronuncia as orações em nome da Igreja e da
comunidade reunida, mas, por vezes, também o faz em nome pessoal, para
despertar maior atenção e piedade no exercício do seu ministério. Estas
orações, propostas para antes da leitura do Evangelho, na preparação dos dons,
e antes e depois da comunhão do sacerdote, são ditas em silêncio (“secreto”).
Outras fórmulas utilizadas na celebração
34. A celebração da Missa é, por sua natureza, “comunitária”. Por isso têm
grande importância os diálogos entre o celebrante e os fiéis reunidos, bem como
as aclamações. Tais
elementos não são apenas sinais externos de celebração colectiva, mas favorecem
e realizam a estreita comunhão entre o sacerdote e o povo.
35. As aclamações e as respostas dos fiéis às saudações do sacerdote e às
orações constituem aquele grau de participação activa por parte da assembleia
dos fiéis, que se exige em todas as formas de celebração da Missa, para que se
exprima claramente e se estimule a acção de toda a comunidade.
36. Há ainda outras partes da celebração, que pertencem igualmente a toda a
assembleia convocada e muito contribuem para manifestar e favorecer a
participação activa dos fiéis: são principalmente o acto penitencial, a
profissão de fé, a oração universal e a oração dominical.
37.
Finalmente, entre as restantes fórmulas:
a) umas constituem um rito ou acto
por si mesmas, como o hino Glória, o salmo responsorial, o Aleluia e o
versículo antes do Evangelho, o Santo, a aclamação da anamnese e o cântico
depois da Comunhão;
b) outras destinam-se a acompanhar
um rito, como o cântico de entrada, do ofertório, da fracção (Cordeiro de Deus)
e da Comunhão.
Modos de proferir os vários textos
38.
Nos textos que devem ser proferidos claramente e em
voz alta, quer pelo sacerdote ou pelo diácono, quer pelo leitor ou por todos, a
voz deve corresponder ao género do próprio texto, conforme se trata de leitura,
oração, admonição, aclamação ou cântico. Igualmente se há-de acomodar à forma
de celebração e à solenidade da assembleia. Tenha-se em conta, além disso, a
índole peculiar de cada língua e a mentalidade dos povos.
Nas rubricas e normas que se seguem, as palavras “dizer” ou “proferir” devem
ser entendidas como referentes quer ao canto quer à simples recitação, segundo
os princípios atrás enunciados.
Importância do canto
39. O Apóstolo exorta os fiéis, que se reúnem à espera da vinda do Senhor, a
que unam as suas vozes para cantar salmos, hinos e cânticos espirituais (cf.
Col 3, 16). O canto é sinal de alegria do coração (cf. Actos 2, 46). Bem dizia
Santo Agostinho: “Cantar é próprio de quem ama”. E vem já de
tempos antigos o provérbio: “Quem bem canta, duas vezes reza”.
40. Deve ter-se, pois, em grande apreço o canto na celebração da Missa, de
acordo com a índole dos povos e as possibilidades de cada assembleia litúrgica.
Embora não seja necessário cantar sempre, por exemplo nas Missas feriais, todos
os textos que, por si mesmos, se destinam a ser cantados, deve no entanto
procurar-se com todo o cuidado que não falte o canto dos ministros e do povo
nas celebrações que se realizam nos domingos e festas de preceito.
Na escolha das partes
que efectivamente se cantam, dê-se preferência às mais importantes, sobretudo
às que devem ser cantadas pelo sacerdote ou pelo diácono ou pelo leitor, com
resposta do povo, bem como às que pertence ao sacerdote e ao povo proferir
conjuntamente.
41. Em igualdade de
circunstâncias, dê-se a primazia ao canto gregoriano, como canto próprio da
Liturgia romana. De modo nenhum se devem excluir outros géneros de música sacra,
principalmente a polifonia, desde correspondam ao espírito da acção litúrgica e
favoreçam a participação de todos os fiéis.
Dado que hoje é cada vez mais frequente o encontro de fiéis de
diferentes nacionalidades, convém que eles saibam cantar em latim pelo menos
algumas partes do Ordinário da Missa, sobretudo o símbolo da fé e a oração
dominical, nas suas melodias mais fáceis.
Os gestos e
atitudes corporais
42. Os gestos e atitudes
corporais, tanto do sacerdote, do diácono e dos ministros, como do povo, visam
conseguir que toda a celebração brilhe pela beleza e nobre simplicidade, que se
compreenda a significação verdadeira e plena das suas diversas partes e que se
facilite a participação de todos. Para isso deve atender-se ao que está definido pelas leis litúrgicas e
pela tradição do Rito Romano, e ao que concorre para o bem comum espiritual do
povo de Deus, mais do que à inclinação e arbítrio de cada um.
A atitude comum do corpo, que todos os participantes
na celebração devem observar, é sinal de unidade dos membros da comunidade
cristã reunidos para a sagrada Liturgia: exprime e favorece os sentimentos e a
atitude interior dos presentes.
43. Os fiéis estão de pé: desde o início do cântico de entrada, ou enquanto
o sacerdote se encaminha para o altar, até à oração colecta, inclusive; durante
o cântico do Aleluia que precede o Evangelho; durante a proclamação do
Evangelho; durante a profissão de fé e a oração universal; e desde o invitatório
“Orai, irmãos”, antes da oração sobre as oblatas, até ao fim da Missa, excepto
nos momentos adiante indicados.
Estão sentados: durante as leituras que precedem o
Evangelho e durante o salmo responsorial; durante a homilia e durante a
preparação dos dons ao ofertório; e, se for oportuno, durante o silêncio
sagrado depois da Comunhão.
Estão de joelhos durante a consagração, excepto se
razões de saúde, a estreiteza do lugar, o grande número dos presentes ou outros
motivos razoáveis a isso obstarem. Aqueles, porém, que não estão de joelhos
durante a consagração, fazem uma inclinação profunda enquanto o sacerdote
genuflecte após a consagração.
Compete, todavia, às Conferências Episcopais, segundo
as normas do direito, adaptar à mentalidade e tradições razoáveis dos povos os
gestos e atitudes indicados no Ordinário da Missa. Atenda-se,
porém, a que estejam de acordo com o sentido e o carácter de cada uma das
partes da celebração. Onde for costume que o povo permaneça de joelhos desde o
fim da aclamação do Sanctus até ao fim da Oração eucarística, é bom que este se
mantenha.
Para se conseguir a uniformidade nos gestos e atitudes do corpo na
celebração, os fiéis devem obedecer às indicações que, no decurso da mesma,
lhes forem dadas pelo diácono, por um ministro leigo ou pelo sacerdote, de
acordo com o que está estabelecido nos livros litúrgicos.
44. Entre os gestos contam-se também: as acções e as procissões do sacerdote
ao dirigir-se para o altar com o diácono e os ministros; do diácono, antes da
proclamação do Evangelho, ao levar o Evangeliário ou Livro dos evangelhos para
o ambão; dos fiéis ao levarem os dons e ao aproximarem-se para a Comunhão.
Convém que estas acções e procissões se realizem com decoro, enquanto se
executam os cânticos respectivos, segundo as normas estabelecidas para cada
caso.
O silêncio
45. Também se deve guardar, nos momentos próprios, o silêncio sagrado, como
parte da celebração. A natureza
deste silêncio depende do momento em que ele é observado no decurso da
celebração. Assim, no acto penitencial e a seguir ao convite à oração, o
silêncio destina-se ao recolhimento interior; a seguir às leituras ou à
homilia, é para uma breve meditação sobre o que se ouviu; depois da Comunhão,
favorece a oração interior de louvor e acção de graças.
Antes da própria celebração é louvável observar o silêncio na igreja, na
sacristia e nos lugares que lhes ficam mais próximos, para que todos se
preparem para celebrar devota e dignamente os ritos sagrados.
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